Na verdade esse foi o nome que eu dei pra ele depois de convivermos juntos por algumas semanas. Ele foi encontrado por mim numa noite chuvosa, todo molhado, assustado e coberto de barro. Apesar de na época trabalhar e ainda estar estudando, decidi pegar o bicho e trazer pra casa, e torcer pra que tudo desse certo.
Chegamos em casa, dei um bom banho, comida, e ficamos esperando Namorido chegar pra conversarmos sobre o que faríamos com ele. A princípio achamos que os donos iriam aparecer e focamos em procurar por eles nas primeiras semanas. Seboso era um cachorro dócil, velho e bem cuidado. Mas depois, resolvemos procurar um novo lar pra ele, porque Pituca não se adaptou nada a presença de mais um integrante na família. Ela ficou muito triste pelos cantos, mal comia e os dois não se gostavam. E nós, passando a maior parte do tempo fora de casa, não conseguimos trabalhar bem a relação entre eles.
Tão pouco Namorido se adaptou. Todo dia de manhã quando ele pegava Seboso no colo, pra tirar da casinha e colocar pra fazer xixi, ele esquecia do “item extra” que os cachorros machos tem… aí lá vinha uma pessoa correndo pra lavar o braço porque um certo cachorro encostou uma certa parte melada nele. E dá-le reclamação, cara de nojo e braço quase esfolado de tanto esfregar. E claro, todo dia eu me acabava de rir, e na verdade, já ficava torcendo pra acontecer! kkkkkk
Seboso era um animal muito peculiar… não latia, tossia… tipo muito… aquela tosse que não é tosse, sabe como? E ele resmungava… de tudo. Não namorido, o Seboso. Você não podia pegar ele… Ele era um cachorro estilo o personagem do filme Melhor Impossível, tá ligado?! Nada pra ele tava bom… por isso ganhou o nome carinhoso. Ele olhava pra gente com cara de nojo, tipo, quem são vocês?! Ração, vocês vão me dar ração pra comer?! Por que não posso dormir na cama?! Tirem ela de perto de mim, não gosto de cachorros! Mas apesar de ser seboso, ele foi tratado como parte da família enquanto estava aqui. Tipo um tio avô rabugento. E olha, nossa convivência durou tempo suficiente pra eu afirmar que ele gostava de ser assim…kkkkk.
O problema pra achar um novo lar foi a propaganda. Eu dizia que era um poodle muito dócil, pequeno e tosado e que não daria trabalho algum. Namorido como sempre, preferia ficar com o bicho aqui do que perder a piada:
– Você quer? Vai logo ver que esse bicho tá tão velho que vai morrer a qualquer instante!
– Juliana, você já explicou que só 1/3 é cachorro? O resto é furico e “bingulim”?!
– Você tem problemas com cachorro que só sabe tossir, olhar pra você e resmungar?!
– Se levar, vai de bride uma nota de 100. Mas não aceito devolução!!
Nossos amigos sempre queriam ouvir as histórias do Seboso. Riam demais e ele era assunto constante na mesa do bar.
E nós não fomos os únicos a reparar “nos acessórios” do dito cujo…
Pelo sim, pelo não, Pituca preferiu não saber pro que servia. Mostrou pro Seboso quem mandava nessa casa e assim, eles nunca mais se falaram!
Mas com o passar do tempo, Seboso encontrou um lar adotivo. Uma senhora sem animais ficou muito feliz em poder cuidar dele, e adotou o bichinho como um filho. E ele ficou todo peludão, de coleira nova, e passava todo metido com aqueles 2/3 de acessórios incompatíveis com o corpo, tossindo e fazendo cara de nojo pra mim na rua. Tudo bem Seboso, já entendi… desculpe por exisitir e obrigada nos aguentar.
E nós fizemos um churrasco pra comemorar.
É meus amigos, tirando as brincadeiras (oh, não levem as palhaçadas a sério!! a história não teria graça contada de outra forma), levar um cachorro pra casa não é mole não! Seboso quase não deu trabalho (só xixi no lugar errado e problemas de relacionamento com Pituca), mas muitos animais são resgatados feridos e doentes, precisando de muita atenção e cuidados. Muitos animais velhos são abandonados. Por isso, dêem apoio a quem recebe não só um, mas às vezes vários animais em sua casa. Essas pessoas são seres generosos demais. Ajude uma ONG em sua cidade, mesmo que só possa doar um pouquinho de tempo ou de dinheiro. O que é feito de coração pelo outro é recebido em dobro de volta. Nós sempre ajudamos, mas fazemos isso com mais empolgação agora, pensando em quantos Sebosos estão felizes e saudáveis por aí.